
Ano 2006
150 páginas
Mais de 150 fotografias
Autor
Emanuel Vilaça
Abordagem histórica
Dóris Santos
Prefácio
Fernando Catarino
Revisão científica
Otília Correia
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Prefácio de Fernando Catarino
Ora aí está!
Em nossa frente e nas nossas mãos há um texto novo que eu acho ser motivo de felicidade. Primeiro para o seu autor que, com pertinácia, lucidez e saber, vê chegar ao fim um projecto seu que gradualmente ganhou forma e se alargou nos objectivos que ultrapassam em muito o que começou por ser uma simples caracterização botânica e ecológica da Mata do Bombarral. Mas, ao lê-lo e ao preparar esta apresentação, em fase ainda preparatória da edição final, grande foi o prazer que senti.
Os leitores vão por certo apreciá-lo, também, cada um segundo a faceta que lhe for mais apelativa. É quase certo que muitos dele se apaixonarão pelo lado mais óbvio: o da beleza das imagens. São muitas, mas não de mais. Aliás, em qualquer publicação, bem mais importantes e o que conta são as ideias. Como no caso vertente. E, tanto melhor, se correctas, bem apresentadas, logicamente encadeadas e ajustadas aos objectivos.

Os botânicos dizem que o grupo estrutural, a formação biológica vegetal, à medida que modifica o ambiente biofísico ganha mais resiliência e reequilibra-se melhor do que plantas isoladas. Claro que há intervenções melhores e outras mais gravosas. Mas o que é certo é que passadas centenas e centenas de anos, com mais ou menos intervenção humana e exploração dos recursos, a Mata do Bombarral aí está para as curvas, e, agora, o livro vai pô-la nas bocas do mundo.
Um livro que é, também, um excelente álbum que o autor foi pacientemente fazendo dos lugares e momentos da luz certa para retratar a Mata.
Cada fotografia deixa adivinhar ter havido entre fotógrafo e cada objecto retratado longo namoro que, de paixão obsessiva, desabrochou em amor sereno e firme. Outra imagem que me veio ao alinhavar estas linhas é a do desvelo de quem quer e consegue apanhar cada momento importante, e todos o são, do desabrochar e crescer dum primeiro filho.
Mas outras hão de ser as razões do êxito que eu vaticino ao livro do Emanuel Vilaça que, em certa medida, é também de todas pessoas, entidades e grupos de cidadania interventiva que mais de perto apoiaram o autor. Aqui destaco o decisivo acompanhamento da Professora Otília Correia, o acolhimento por parte da Autarquia e a preparação da proposta do projecto submetido ao Programa Leader, por parte da associação Real 21 que editou tão cuidada publicação.
Estou certo que para as gentes do Bombarral e sobretudo para todas gerações em formação escolar, do nível básico ao técnico superior e, em certa medida, todo o Oeste e o restante do espaço nacional, irão familiarizar-se com tão oportuna e útil publicação. O teor das matérias abordadas e o actual acordar, embora tardio, das preocupações dos cidadãos para os valores da qualidade ambiental do território e em especial dos espaços urbanos, creio suportarem tal expectativa.
De facto, em meu entender poucos serão os casos-estudo que, mesmo à escala do país possam ombrear com esta realização, quer nas valências e temas aflorados quer na qualidade e rigor científico que foram postos neste paradigmático exemplo. Sublinhe-se que a iniciativa não resulta de nenhuma encomenda, recado ou busca de honrarias e proveitos mas antes de um salutar e esclarecido sentido de "pertença"por parte do autor e da Real 21 que ultrapassa em muito as visões acanhadas de regionalismos passadiços. Daí a mais valia que o livro representa como exemplo e "vade-mecum" para muitos técnicos e decisores envolvidos na gestão, valorização e sustentabilidade do território, suas paisagens e "património sem fronteiras".
Não me tolhe nenhum receio em afirmar que o livro da Mata do Bombarral se torna, pelo cuidadoso escrutínio e selecção de fontes e elementos gráficos num valioso repositório de abundante, mas até agora grandemente dispersa bibliografia. Mesmo no que toca a aspectos estritamente científicos o livro ajuda a abordar com maior segurança problemas difíceis, e por demais frequentes no todo do território, quando se tem de compaginar desenvolvimento, conservação e sustentabilidade. Muitas revisões de PDM ganhariam em tê-lo em conta.
Como professor de botânica e de ecologia, que fui, sinto-me desculpado se há algum envesamento em afirmar que a Mata é a peça mais valiosa do património urbano da sede do concelho.Especialistas em história do desenvolvimento, da arquitectura e do urbanismo, por certo que, nesta altura, já torcem o nariz. Creio porém estar fora de dúvida que um dos grandes méritos da publicação é precisamente o de demonstrar como um simples retalho do primevo coberto vegetal mediterrânico, quase miraculosamente conservado até nossos dias, mesmo se reduzido em área, face ao alastramento da mancha urbana, desempenha hoje papel fulcral, como centralidade de valência ambiental de qualidade, que pontua e refresca o viver urbano no Bombarral.
Fernando Catarino
Maio de 2006